O homem que plantou esperança e criou felicidade

Autor: Jean Giono
Livro pequeno, menor que um A6, de 27 páginas

A revelação de qualidades verdadeiramente excepcionais em um caráter humano só nos é dada se tivermos a sorte de poder observar sua atuação durante longos anos. Se esta atuação é isenta de qualquer egoísmo, se é dirigida por uma incomparável generosidade, se é absolutamente livre de qualquer ideia de recompensa e se, além disso, deixa suas marcas visíveis na terra, não há mais dúvida quanto àquelas extraordinárias qualidades.

Há cerca de quarenta anos eu fiz uma longa caminhada através de serras desconhecidas aos turistas naquela antiga região onde os Alpes caem em direção à Provença. Naquela época, quando parti para aquelas regiões desertas, tudo ali era terra estéril e incolor. Nenhuma vegetação além da lavanda silvestre. Eu atravessava a região em sua parte mais ampla e após caminhar três dias encontrei-me em meio à mais completa desolação. Acampei perto dos vestígios de uma aldeia abandonada. A água que eu levava acabara na véspera e eu precisava encontrar alguma. Aquelas casas agrupadas, apesar de serem apenas ruínas, semelhantes a um velho ninho de marimbondos, sugeriam que devereia haver ali uma fonte ou chafariz. Havia, de fato, uma fonte, mas estava seca. As cinco ou seis casas, destelhadas, roídas pelo vento e pela chuva, a pequena capela com sua torre desmoronada, se situavam como casas e capelas de uma aldeia viva, mas desaparecera toda a vida.

Jean Giono